ॐ Canção do despertar (Chagdud Tulku Rinpoche)

2 08 2012

“Uh oh!  Não durmas agora, ser afortunado.

Desperta com diligência.

De tempos sem princípio até agora tens dormido em ignorância.

Agora é o momento de deixar o sono para trás e praticar virtude, com corpo, fala e mente.

Não te lembras de nascimento, doença, velhice e morte?

Todo sofrimento além da conta e além da medida?

Esqueceste?

Quem sabe se terás o dia inteiro?

Agora é o momento de praticar com diligência.

Ainda tens esta oportunidade de gerar benefício duradouro, então, por que desperdiçá-la por preguiça?

Se realmente contemplares a impermanência, consumarás a tua prática rapidamente.

Quando a hora da tua morte chegar, estarás confiante.

Com a tua prática consumada, não terás nenhum arrependimento.

Sem esta confiança, qual terá sido o propósito da tua vida?

A natureza de todos os fenômenos é vazia e sem identidade, como a lua refletida na água, uma bolha, uma alucinação, uma emanação, uma ilusão, uma miragem, um sonho, uma imagem no espelho, um eco.

Todo o samsara, todo o nirvana é assim.

Reconhece todas as coisas desta maneira.

Nada vem, nada fica, nada vai, além de qualquer descrição por palavras, além de qualquer concepção da mente.

Agora é o momento de alcançares a realização que é sem sinais.”





ॐ Por que precisamos de um caminho espiritual? (Chagdud Tulku Rinpoche)

9 07 2012

Por que precisamos de um caminho espiritual? Vivemos em um tempo muito atribulado, em que nossas vidas transbordam de atividades — algumas alegres, algumas dolorosas, algumas gratificantes e outras, não. Por que deveríamos reservar um tempo para as práticas espirituais? Conta-se muito a história de um homem de uma região no norte do Tibete que decidiu fazer uma peregrinação com seus amigos até o Palácio Potala, a residência do Dalai Lama, em Lhasa, um lugar muito sagrado. Era uma viagem que marcava a pessoa pelo resto da vida.

Naqueles dias, não havia carros ou veículos de qualquer espécie na região, e as pessoas viajavam a pé ou a cavalo. Demorava-se bastante para chegar a qualquer parte e era perigoso ir muito longe, já que inúmeros ladrões e bandidos assaltavam viajantes incautos. Por esses motivos, a maioria das pessoas nunca deixava sua região natal, do nascimento à morte. A maioria delas nunca havia visto uma casa; moravam em tendas pretas tecidas com fibra de pêlo de iaque. Quando esse grupo de peregrinos finalmente chegou em Lhasa, o homem do norte ficou assombrado com o Palácio Potala e seus múltiplos andares, suas muitas janelas e a vista espetacular da cidade que se descortinava do interior. Ele enfiou a cabeça por uma abertura bem estreita que servia de janela para ter uma visão melhor, virando a cabeça para a direita e para a esquerda, enquanto olhava a vista ali em baixo. Quando seus amigos o chamaram para ir embora, ele puxou a cabeça para trás com um solavanco forte, mas não conseguia tirá-la da janela. Ficou muito nervoso, puxando de um lado e de outro. Por fim, concluiu que estava realmente entalado. Então, disse a seus amigos, “Podem ir para casa sem mim. Digam a minha família que a notícia ruim é que morri, mas a notícia boa é que morri no Palácio Potala. Haveria lugar melhor para alguém morrer?” Os amigos eram também gente muito simples, de modo que, sem muito refletir, concordaram e foram embora. Algum tempo depois, o zelador do templo apareceu e perguntou, “Mendigo, o que você está fazendo aí?”

“Estou morrendo”, ele respondeu. “Por que você acha que está morrendo?” “Porque minha cabeça está entalada.” “E como é que você a pôs aí?”

“Eu a enfiei fazendo assim.” O zelador respondeu, “Então, tire-a da mesma maneira que entrou!” O homem fez o que o zelador sugeriu e se soltou. Como esse homem, se conseguirmos enxergar onde é que estamos presos, poderemos quebrar nossas amarras e ajudar os outros a fazer o mesmo. Mas, primeiro, precisamos entender como viemos parar onde estamos.
Extraído do livro Portões da prática Budista de Chagdud tulku Rinpoche (p. 3-4)