Sharíra (sthúla, súkshma e karana): os corpos pela visão Yogi.

26 07 2011

Sharíra significa corpo, em termos yogis sharira, não é simplesmente o corpo físico como compreendemos, além do corpo físico somo feitos de uma matéria sutil e um corpo causal. Portanto aquilo com chamamos de corpo denso é na verdade um composição tripla: Sthúla Sharíra (corpo físico denso), Súkshma Sharíra (corpo sutil) e Karana Sharíra (corpo causal).

 

Sthúla Sharíra corresponde à matéria densa e é formada estrutura óssea, músculos, tecidos, células etc. Em sthúla sharíra estão presentes pañcha tattvas (cinco elementos): terra (prithivi), água (apas), fogo (agni), ar (váyu) e éter (prána). Em um plano mais sutil, este tattvas corresponderão aos respectivos chakras (múládhára chakra, sváddhithana chakra, manipura chakra, anáhata chakra e vishuddha chakra). Sthúla sharíra também corresponde aos nossos órgãos sensoriais: ouvidos, olhos, pele, língua e nariz; pois são através desses órgãos que percebem os elementos densos que compõe o próprio corpo denso.

A nossa dieta alimentar é a fonte de energia do corpo denso, cada alimento ingerido é um combustível para fazer funcionar o corpo físico. Se o processo alimentar é de má qualidade, o corpo físico não terá um grande potencial de atuação, mas se o processo alimentar for feito de maneira saudável, o corpo físico terá um acréscimo de força e energia. Sendo assim, um grande passo para manter saudável sthúla sharíra é observar um alimentação mais saudável, um dos motivos pela qual alimentação vegetariana é utilizada pelos yogis, pois além de tornar todo o processo digestivo mais eficiente, não intoxica excessivamente os corpos físico e sutil.

A prática do Hatha Yoga, relaxamento e Shat Karmas (as seis ações purificatórias) são outros contribuintes para a saúde da parte física: ásana confere mais saúde ao corpo, relaxamento restaura o corpo físico e Shat karmas purifica e elimina as toxinas do corpo denso. Todo esse conjunto físico é denominado de Anna Máyá Kosha ou corpo feito de alimento. Sthúla sharíra é o veículo dos outros corpos: súkshma sharíra e karana sharíra.

 

Súkshma Sharíra: é a nossa matéria sutil, na qual não a vemos com os olhos físicos porém facilmente compreendemos as suas manifestações. Súkshma sharíra corresponde ao nosso corpo energético (estrutura pránica ou prána máyá kosha), pensamentos (mano máyá kosha) e conhecimento (vijñána máyá kosha); aos nossos cinco ares vitais (pañcha prána), aos órgãos sutis de ação e percepção do mundo (karmendriyas) e pelo complexo mental chamado de antah karana (manas: mente, ahamkára: ego, intelecto superior: buddhi e consciência: chitta).

Todos esses complexos sutis de conhecimento, reflexão e compreensão da existência são oriundos desta chamada súkshma sharíra.

Com a prática de pránáyámas potencializamos o prána interno e aumentamos a energia do corpo energético. Como o corpo energético é um “invólucro” do corpo denso, a prática das posturas também direciona o prána para determinados chakras, aumentando assim a energia intrínseca de cada centro energético. Desta maneira que a parte física no Yoga não deve ser vista apenas como uma prática de benefícios físicos. Trabalhando o corpo com os ásanas estamos fazendo o prána circular em toda estrutura corpórea e é assim que movimentamos o prána do súkshma sharíra através do sthúla sharíra. Por isso que as posturas conferem benefícios mentais e emocionais, pois movimentam o prána ligado a todo o complexo mental e emocional. A energia pránica dos alimentos é outro fator de ampliação da energia de súkshma sharíra, alimentos sattvicos possuem um prána mais puro. Quando ingerimos um alimento de qualidade sattvica, a parte física deste alimento alimenta o corpo físico e o prána do alimento alimenta o nosso corpo energético.

 

Karana Sharíra é o corpo causal, ou poeticamente, é a morada da espiritualidade dos seres. Nele reside à alma individual, o átman. É a própria energia existencial do aspecto da criação, de Brahman. Em Karana Sharíra está a real natureza dos seres conhecido como Sat Chit Ánanda: existência, consciência e bem-aventurança absoluta. É o corpo que dá o real sentido da existência pela ótica hindu e que é alcançada pela fé e confiança das escrituras e palavras dos gurus. Este estado de espiritualidade é vivenciado pela prática do Rája Yoga (compreensão do ser através da prática da meditação) e Bhakti Yoga (práticas devocionais).

 

Num plano geral essas são as três camadas que compões a nossa existência, Sthúla Sharíra (corpo físico denso), Súkshma Sharíra (corpo sutil) e Karana Sharíra (corpo causal ou espiritual). As três se interligam e uma acaba sendo uma forma uma escala para se alcançar o outro corpo. Por isso que tradicionalmente a prática do Hatha Yoga é tão importante nos anos iniciais do sádhaka (praticante), na medida que se aperfeiçoa no Hatha Yoga naturalmente vamos cedendo menos energia e importância para o corpo físico e começamos a nos dedicar mais às praticas mais sutis e espirituais. O Hatha Yoga é apenas uma escada para alcançarmos o Rája Yoga.

 

Inclino me diante do Senhor Original (Shiva) que, no começo,

ensinou a ciência do Hatha Vidya (Hatha Yoga),

ciência que constitui o primeiro degrau para o caminhada

elevada do Rája Yoga.

Gheranda Samhita 1-1

 

Saúdo o Primeiro Senhor, Shiva (Shri Adinatha), que ensinou

 o conhecimento do Hatha Yoga à sua esposa Parvatí.

Este conhecimento é como uma escada

que conduz ao elevado estado de Rája Yoga.

Hatha Yoga Pradípiká 1-1

 

 

Om Tat Sat – Om Namah Shivaya – Daniel Nodari Mahadev





Nauli Kriya – massageamento abdominal

16 07 2011

Nauli ou nauli kriyá é uma técnica de difícil execução que exigirá disciplina e paciência. Faz parte das praticas purificatórias do Yoga conhecidas como Shatkarmas (as seis ações purificatórias). Para executarmos a técnica com perfeição, o sádhaka deve possuir uma excelente consciência muscular da região abdominal, aprender a isolar os músculos retos abdominais e depois controlar a contração e descontração desses músculos. Com o controle total desta região, os músculos abdominais se movimentarão da esquerda para direita ou vice-versa, como se fosse “um redemoinho de um rio.”

Nauli kriyá segundo a Hatha Yoga Pradípika:

II:33

“Inclinam-se os ombros para frente, apoiando-se com firmeza as palmas das mãos nos joelhos; move-se o ventre para a esquerda e para a direita como um redemoinho em um rio. Os siddhas chamam esta técnica de nauli.”

II:34

“Esta excelente prática de Hatha Yoga elimina a inércia do fogo gástrico, estimula a digestão, deixa uma sensação agradável e elimina todos os males e desajustes dos humores.”

Nauli kriyá no Gheranda Samhita aparece com o nome de Lauliki Yoga.

1:52

“Mova com energia os intestinos e o estômago de um lado para o outro. Este é o Lauliki Yoga. Elimina todas as enfermidades e aumenta o fogo gástrico.”

A Hatha Yoga Pradípiká fornece as informações iniciais para a execução desta kriyá. Primeiro fique em pé com os pés afastados. Flexione os joelhos e pressione as mãos sobre respectivas coxas, ou seja, mão esquerda sobre a coxa esquerda e mão direita sobre a coxa direita. A pressão das mãos sobre as coxas facilita o isolamento e a movimentação da musculatura abdominal.

Solte todo o ar e inicie as movimentações circulares dos músculos abdominais. Descontraia ombros e pescoço durante a execução do nauli. A cabeça pode ficar naturalmente voltada para frente durante a execução do nauli. Faça sempre sem ar. Precisando inspirar, desfaça as contrações e inspire, podendo elevar um pouco o tronco durante a inspiração. Para fazer uma nova execução, solte o ar novamente, coloque as mãos sobre as coxas e inicie uma nova série.

Por se tratar de uma técnica com um nível elevado de execução, ela não tem como realmente ser ensinada por livros, o ensinamento deve acontecer diretamente de um professor de yoga. O que foi descrito aqui foram os passos iniciais ou simplesmente uma apresentação da técnica para quem ainda não a conhece e para quem já a conhece, não deixa de ser uma revisão dos seus fundamentos.

Técnicas preparatórias:

uddiyana bandha:

Faça um rechaka (exalação) pleno buscando eliminar completamente o ar dos pulmõesa. Uma vez com os pulmões vazios, comprima bem a musculatura abdominal, projetando o abdômen bem para dentro e para cima, como se fosse direcionar a musculatura abdominal para a espinha. Permaneça sem ar durante toda a contração e precisando inspirar desfaça o bandha e inspire.

Vahnisara dhauti (também conhecido de agnisara dhauti ou rajas uddiyana bandha)

Gheranda Samhita 1:20. “Pressionar cem vezes o abdômen contra a coluna vertebral. Isto é agnisara ou limpeza com fogo. Conduz ao êxito na prática de yoga, cura todas as enfermidades do estômago e incrementa o fogo interno.”

Execute este dhauti utilizando a mesma lógica respiratória do uddiyana bandha. Faça uma exalação completa e contraia e descontraia rapidamente a musculatura abdominal. Desfaça as movimentações quando precisar inspirar.

Madhyana nauli: a contração isolada da musculatura central da região abdominal.

Vamah nauli: a contração isolada da musculatura do lado esquerdo da região abdominal.

Dakshinah nauli: a contração isolada da musculatura do lado direito da região abdominal.

Com o domínio dessas cinco técnicas preparatórias, nauli kriyá é facilmente executado. As três últimas descritas, madhyana, vamah e dakshinah nauli, são as que mais exigirão disciplina e paciência.

Benefícios:

Nauli kriyá confere excelentes benefícios ao sistema digestivo e saúde em geral. Regenera o sistema digestivo, beneficia intestinos, fígado, estômago e fortalece musculatura abdominal. Ajuda também na prática de ásanas pois desenvolve a consciência corporal no ponto central de equilíbrio do corpo.

om namah shivaya – daniel nodari mahadeva





ॐ Kapālabhāti Kriyā

2 07 2011


Vamos abordar um tema bem importante que são as práticas de “purificação do corpo”. Kriyā é um termo feminino que significa fazer, executar, ação, atividade, trabalho, ou exercícios feitoem partes. Apósos tratados de Hatha Yoga, principalmente a Hatha Yoga Pradīpikā e Gheranda Samhitā, o termo kriyā acabou ganhando uma certa autonomia e se transformou em sinônimo de “exercícios de purificação do corpo”. As práticas mais conhecidas de purificação recebem, no conjunto, o nome de Shat Karma ou as seis ações purificatórias e segundo a Hatha Yoga Pradīpikā essas ações são: dhauti, vasti, neti, trātaka, nauli e kapālabhāti.

Abordaremos agora o estudo sobre kapālabhāti kriyā: um exercício respiratório de limpeza das narinas, vias respiratórias e pulmões. Além disso, beneficia diafragma, pulmões, coração, órgãos abdominais, sistema nervoso e cérebro. Kapālabhāti pode ser feito antes dos āsanas (posturas) e prānāyāmas (exercícios respiratórios e ampliação da energia vital), desobstruindo as vias respiratórias e facilitando uma respiração profunda e completa ao longo dessas práticas.

Kapāla significa crânio e bhāti brilhante, podemos então traduzir o termo kapālabhāti como o “crânio que brilha” ou “crânio brilhante”. Esta kriyā acelera levemente os batimentos cardíacos e a circulação sanguínea, iniciando assim a purificação do corpo, na qual as impurezas são transportadas com mais velocidade pelo sangue venoso. Amplia a oxigenação de todo o organismo revitalizando órgãos e tecidos, auxilia na desobstrução de artérias, estimula o sistema nervoso, tonifica os músculos abdominais e confere ação benéfica ao fígado, baço, rins, pâncreas, e estômago. O corpo prânico também é muito favorecido pelo kapālabhāti, purificando o corpo denso, o corpo sutil também é purificado, facilitando assim o fluir do prāna pelas nādīs em todo o corpo, além de elevar o nível de prána sobre a região do plexo solar, manipura chakra.

O cérebro também recebe muitos benefícios com kapālabhāti. Quando respiramos ocorre um fenômeno natural no cérebro advindo da sua relação com o líquido cérebro-espinhal. Quando inspiramos o fluído é comprimido, conferindo uma suave compressão no cérebro, quando exalamos o fluído é descomprimido ampliando a irrigação sanguínea no cérebro e expandindo seu volume. Esta dinâmica acontece sempre e está ligado ao ato de respirar.  Este líquido cérebro-espinhal protege o cérebro e espinha de traumas, supre de nutrientes o sistema nervoso e remove produtos de degradação do metabolismo cerebral. Este fluído é rico em proteínas e nutrientes e é um grande responsável pelo funcionamento normal do cérebro. Com o kapálabháti aumentamos muito mais esses ciclos de expansão de volume cerebral por minuto e o fluir do líquido cérebro-espinhal, de uma média de dezoito ciclos de expansão por minuto podemos chegar a cento e vinte ciclos por minuto. Assim estamos ampliando enormemente a irrigação sanguínea, oxigenação e provisão de nutrientes no cérebro, beneficiando células cerebrais, hipófise, pineal e conferindo uma verdadeira “massagem” no cérebro.

Você pode praticar esta kriyā em qualquer postura usada nas práticas de prānāyāmas. O kapālabhāti consiste em inspirar profundo e exalar com força e ruído. Contraia vigorosamente os músculos do abdômen para expulsar o ar, a contração abdominal se assemelha à contração abdominal de uma tosse. Músculos da face e ombros não se contraem, somente a região do abdômen. Mantenha o tronco ereto ao longo de todo kapālabhāti.

É uma prática respiratória com apenas duas fases: inspiração (pūraka) e exalação (rechaka). Não há kūmbhaka (retenção com ar nos pulmões) durante o ciclo de kapālabhāti. Inspire profundo e exale rápido e ruidoso, você pode fazer de 20,40 a60 rechakas por ciclo. Você pode fazer 2 ou 3 ciclos de kapālabhāti intercalando com kūmbhaka. Exemplificando: faça um ciclo com 40 rechakas, ao finalizar o ciclo faça duas ou três inspirações bem profundas, lentas e completas. Essas respirações profundas visam normalizar os batimentos cardíacos e a própria respiração. Antes de iniciar um novo ciclo, faça um kūmbhaka, (retenha o ar nos pulmões), se você for iniciante retenha o ar nos pulmões de 15 à 30 segundos. Para fazer a retenção com ar não é necessário fazer uma inspiração tão profunda. Depois exale e se prepare para um novo ciclo. O ideal é sempre ter a supervisão de um professor experiente em Yoga, caso não encontre ninguém (algo que é muito improvável nos dias de hoje), utilize sempre bom senso e respeito aos seus limites. Esta kriyā pode ser inadequada para os cardíacos ou para quem tem pressão alta, consulte o seu professor e/ou médico caso tenha dúvidas. Lembre que o foco desta kriyā é a exalação profunda e forte, a exalação não é feito com força, apenas a exalação.

Se você está começando no Yoga, faça rechakas (expirações) mais suaves. Com o tempo de prática aumente a intensidade do rechaka e mesmo que você já seja um praticante avançado nunca faça este exercício com violência ou excesso de contração muscular, respeite-se acima de tudo, lembre e aplique sempre ahimsā, principalmente com você mesmo.

Daniel Nodari (Mahādeva) – Om Namah Śivaya





Dhauti kriya

1 07 2011

Dhauti, em sânscrito, significa lavar, limpar, purificar, mas quando trata de kriyā do Hatha Yoga, dhauti significa um conjunto de técnicas de lavagem e limpeza do corpo, em especifico das mucosas e órgãos internos. Por mais que essas práticas sejam facilmente encontradas em várias literaturas e em sites de internet, não se aventure em fazê-las pelo simples fato de apenas compreender as suas descrições, busque a orientação de alguém que já as domine e que tenha anos de experiência na filosofia do Yoga, em especifico na prática do Hatha Yoga.

 

A Hatha Yoga Pradīpikā expõe inicialmente o dhauti como a lavagem do trato digestivo. Segundo o texto do Yogi Svātmārāma, autor de tradição Śivaísta da Hatha Yoga Pradīpikā:II:24

 

Dhauti: engole-se lentamente uma tira de pano umedecida, de quatro polegadas de largura e quinze palmos comprimento e se retira em seguida, seguindo as instruções do guru.”

 

Vastra Dhauti: é o nome desta técnica descrita na Hatha Yoga Pradīpikā que visa a limpeza do trato digestivo. A tira de pano deve ser cuidadosamente e previamente limpa para a prática deste dhauti. Observe bem a tira para que ela não solte nenhum fio ou pedaço de linha. A tira de pano deve estar umedecida para a execução do vastra dhauti. Durante o primeiro dia de execução engula somente poucos centímetros, retenha alguns segundos e retire muito vagarosamente para não irritar e nem ferir a garganta. Dia após dia de execução da técnica vá ampliando os centímetros e o tempo de permanência e sempre retirando muito lentamente. Não é necessário executar todos os dias, podendo ser feito três em três dias ou de quinze em quinze dias, dependendo do caso. Sempre é sugerida a ingestão de leite após a execução deste dhauti. O leite atua como um lubrificante para a garganta.

 

Existem ainda outras variações de dhauti:

 

Vaman ou Vamana Dhauti: beba quatro ou cinco copos de água levemente salgada. A água fica semelhante ao gosto da lágrima. Realize alguns ciclos vigorosos de nauli kriyā para estimular o regurgitar, incline-se num ângulo de 90 graus e vomite a água ingerida. Caso não vomitar a água espontaneamente, coloque os dedos médio e indicador na base da língua para facilitar a expulsão da água pela boca. Ideal que seja feito pela manhã e em jejum. Se necessário repita o regurgitar até eliminar toda a água ingerida. A água pode estar em temperatura ambiente ou levemente norma. Espere um período de meia hora para tomar o café da manhã. Vaman Dhauti também é conhecido como vyaghra kriyā, a limpeza do tigre. Este dhauti elimina todos os resíduos estomacais, inclusive excessos de secreções e comida indigesta. Gaja karani e Kunjara Kriyā também são outro nomes desta kriyā, Gaja e Kunjara significam elefante e o jorrar da água pelo regurgitação aludem ao jorrar de água que os elefantes fazem com as suas trombas. Indicado para quem sofre de hipoacidez estomacal. Contra indicado em casos de hiperacidez estomacal, úlceras de estomago e intestinos.

 

Chakshu dhauti: limpeza dos olhos com ablução. Faça uma concha com uma mão e coloque água no espaço da palma da mão. Usa-se água mineral ou água fervida em temperatura ambiente ou levemente morna com uma pitada de sal ou não, também pode-se usar chá de camomila ou soro fisiológico. O chá de camomila em aplicação em forma de compressa, sobre as pálpebras, elimina o inchaço, olheira, cansaço, congestionamento e manchas por isso também é benéfica para ablução ocular. Como fazer: baixe a cabeça em direção a mão e coloque a cavidade ocular sobre a concha da mão. Depois eleve a cabeça buscando direcionar esta água para os olhos. Mantenha o olho bem aberto para que a água envolva bem o olho. Também é possível utilizar um copo de água ao invés da concha da mão. Lave muito bem as mãos para fazer o chakshu dhauti. Depois compense fazendo a ablução com o outro olho. Ideal para fazer após horas de trabalho no computador.

 

Danda Dhauti: limpeza do estomago feito com água. O Dr. M. L. Gharote descreve danda dhauti da seguinte maneira: “use uma borracha indiana tubular de 2 polegadas de comprimento e 1/8 de polegada de diâmetro. Ferva em água. Beba dois copos de água. Engula uma extremidade do tubo. Quando ele passar pela glote, empurre mais adiante. Depois de aproximadamente meio tubo inserido, ele entra no estomago, incline-se um pouco e inale. A água do estomago começará a sair pelo tubo. Quando o fluxo parar, empurre o tubo de um lado para outro de forma que bastante água seja jogada fora. Isso é útil para superar a tendência a secreção de bílis e suco gástrico. Também alivia desconforto respiratório.” (Gharote. Técnicas de Yoga. Pg 63).

 

Danta dhauti: antigamente feito com pó de catechu (também conhecido como

palmeira de betel), utilizando o dedo indicador ou médio da mão direita para esfregar bem os dentes com este pó.

 

Mūla Danta Dhauti: purificar e fortalecer as raízes dos dentes. Para fazer esta kriyā basta pressionar bem os maxilares e depois de alguns segundos descontraia. Essa pressão aumenta o fluxo sangüíneo nas raízes dos dentes, fortalecendo as raízes os dentes. Uma alimentação com sementes duras, que exijam uma pressão dos dentes e dos maxilares, também atua como danta múla dhauti.

 

Mūla Shodhana Dhauti: limpeza do reto, consiste na limpeza, podendo ser feita durante o banho. Utilize sabonete neutro ou simplesmente a própria água corrente. É feito com a introdução do dedo médio no ânus, girando em ambos os sentidos, cuidando unha para não machucar a mucosa do reto

 

Vahnisara Dhauti ou Agnisara Dhauti: Gheranda Samhitā I:19 e I-20: “Pressionar cem vezes o abdômen contra a coluna vertebral. Isto é agnisara ou limpeza com fogo, as enfermidades abdominais são aliviadas e aumenta o fogo gástrico. Conduz ao êxito na prática de Yoga, cura todas as enfermidades do estômago e incrementa o fogo interno.” Este dhauti é feito sempre com os pulmões vazios e com retenção sem ar prolongada.

 

Vātasāra Dhauti: Purificação do estômago utilizando ar.

Segundo o Gheranda Samhitā 1:15-16

“Contraia a boca como bico de um corvo e toma o ar vagarosamente, enchendo completamente o estômago. Movimenta o ar absorvendo e depois força-o a sair pelo ânus.”

“O vātasāra é um processo secreto que produz a purificação do corpo destruindo todos os males e aumenta o fogo gástrico”

Pode-se utilizar Vahnisara dhauti/agnisara dhauti ou nauli kriyā para auxiliar no direcionamento do ar e depois executar sarvāngāsana para expelir o ar. Matsyendrāsana e mayurāsana também auxiliam no processo de eliminação do ar.

 

Vāriāra Dhauti: Purificação do estômago utilizando água.

Segundo o Gheranda Samhitā 1:17

“Enche a boca com água até a garganta, bebendo lentamente. Movimentando a depois pelo estomago e expelindo pelo reto”. Pode-se utilizar vários ciclos de vahnisara dhauti/agnisara dhauti ou nauli kriyā para auxiliar no processo de direcionamento da água pelos intestinos e na evacuação da água.

 

Karna Dhauti: limpeza dos ouvidos. Utilizando o dedo limpo para a limpeza dos pavilhões auditivos. Nos dias de hoje utilize um cotonete para tal finalidade, sem enfiá-lo muito profundamente.

 

Jihva Dhauti: Limpeza da língua. Era utilizado os dedos das mãos para fazer a limpeza da língua. Hoje em dia pode ser feito com uma escova macia ou mesmo com um raspador de língua apropriado.

 

Kapālarandhra Dhauti: limpeza dos seis frontais, região da face e testa. É feito com massageamento na região do intercílio ou com percussão feita com os dedos de uma das mãos nesta região. A massagem é feita com movimentos firmes e circulares. A percussão é feita com firmeza e com uma mesma intensidade de suaves batidas, fazendo uma efetiva repercussão nesta região. Use o dedo indicador, o médio ou ambos os dedos.

 

 

OM namah Shivaya OM – Daniel Nodari Mahadeva


 





Drishti – Kriya ou exercícios de fixação ocular

24 06 2011

Drishtis são técnicas de fixação ocular que estimulam e revitalizam músculos e nervos óticos e ampliam a concentração. Podemos utilizar pontos de referência que estão no próprio corpo ou pontos externos ao corpo. Estas técnicas podem ser executadas como kriyá efetivamente e também associado aos ásanas, pránáyámas e bandhas. Esses exercícios também são conhecidos como tratak.

 

Drishtis podem ser feitos de olhos abertos ou fechados, mas o ideal é que se execute drishti com os olhos semi-fechados, para não haver cansaço, forçamento e desconforto. Quando executado de olhos abertos recebem o nome de bahiranga drishti e atuam mais como kriyás. Quando executado de olhos fechados recebem o nome de antaranga drishti e atuam mais como exercícios focalizados para concentração e meditação. O estímulo exercido nos nervos óticos tem um reflexo direto nos sistema nervo central, fator que estimula ainda mais o samyama (dháraná, dhyána e samádhi).

 

Comece a execução com um minuto de permanência e vá gradualmente aumentando o tempo de fixação. Dez minutos de drishtis é um bom tempo de execução. A técnica denominada ekágratá é muito similar ao drishti. Drishti é a técnica de fixação ocular enquanto ekágrata envolve toda a consciência no ponto visualizado. Os drishtis citados abaixo que utilizam o próprio corpo como referência são facilmente acoplados na execução de ásana, auxiliando na concentração durante a execução das técnicas corporais e evitando dispersão da mente. O sentido da visão é o entre os cinco sentidos sensoriais (Indriya) o que mais causa dispersão e instabilidade na mente.

 

Drishtis que utilizam o próprio corpo como referência:

-Nasagrá drishti – fixação ocular na ponta do nariz;

-Bhrúmadhya drishti – fixação na região do intercílio, no ájña chakra;

-Nabhi drishti – fixação ocular na região do umbigo;

-Angustha madhyai – fixação ocular nos dedos polegares de mãos os pés;

-Hastagrai drishti – fixação numa das mãos;

-Pádayoragrai drishti – fixação ocular nos dedos dos pés;

-Dakshina párshwa drishti – fixação ocular para o lado direto e acima do ombro direito;

-Vama párshwa drishti – fixação ocular para o lado esquerdo e acima do ombro esquerdo;

-Úrdhwa drishti – fixação ocular com o rosto para cima, em direção ao céu.

-Drishtis que não utilizam o corpo como referência:

-Bhúcharí drishti – fixação ocular no vazio;

-Agni drishti – fixação ocular no fogo (chama de uma vela, fogueia, etc.);

-Tára ou táraka drishti – fixação ocular numa estrela;

-Súrya drishti – fixação ocular no sol (somente durante o sol nascente ou poente);

-Chandra drishti – fixação ocular na lua;

-Guru drishti – fixação ocular na imagem do Guru;

-Ishta Devata drishti – fixação ocular a imagem de culto próprio;

-Shrí Yantra drishti – fixação ocular no Shrí yantra;

-Shiva drishti – fixação ocular na imagem de Shiva;

-Ganesha drishti– fixação ocular na imagem de Ganesha;

-Kalí drishti – fixação ocular na imagem de Kalí;

-Krishna Drishti – fixação ocular na imagem de Krishna etc.

 

As técnicas abaixo devem ser sempre executadas com muito bom senso, principalmente com a supervisão de um professor experiente e que possua conhecimento neste tipo de técnica. Caso tenha alguma dúvida, execute pouca permanência e perceba como o seu corpo reage, se estiver tudo bem, perfeito. E se mesmo assim persistir a duvida em relação aos drishtis, opte por não fazer, tenha sempre bom senso consigo e respeite-se a si mesmo, o seu corpo é o seu veículo para evoluir no Yoga, ahimsá!!!

 

1º exercício:

Sente-se confortavelmente em ásana (posição firme e agradável), com a coluna alinhada e com a cabeça acompanhando o alinhamento da coluna, as mãos podem ficar em Jñána Mudrá ou Shiva Mudrá, gestos que estimularão a concentração. Esta é a uma forma bem tradicional de execução desta técnica, na qual você se senta, coloca uma vela acesa na altura dos seus olhos a uma distância de no mínimo meio metro do seu rosto, nem tão baixa e nem tão alta para não causar desconforto e mantenha o olhar fixo na chama da vela. Mentenha os olhos bem abertos e pisque o mínimo possível.

 

Já progressivamente aumentando o tempo de permanência neste agni drishti, comece com um minuto de permanência (ou até menos) e vá ao longo das semanas aumentando o tempo de permanecia no drishti, 10 minutos é um bom tempo de execução.

 

Você pode proceder à técnica da mesma maneira descrita acima com os outros itens citados anteriormente: Bhúcharí drishti – fixação ocular no vazio, tára ou táraka drishti – fixação ocular numa estrela, súrya drishti – fixação ocular no sol (somente durante o sol nascente ou poente), chandra drishti – fixação ocular na lua, etc.

 

Lembre sempre de observar-se para manter a coluna alinhada durante toda a execução da técnica. O próximo exercício é mais destinado a alunos com bom tempo de prática.

 

 

2º exercício:

Sente-se em padmásana, siddhásana, samanásana ou sukhásana e coloque as mãos sobre os joelhos em jñána mudrá ou chin mudrá.

 

Executaremos agora uma técnica que irá intercalar dois drishts, utilizando o corpo como referência visual. Essa é uma técnica mais avançada que será associado ao pránáyáma e exigirá do praticante bom tempo de prática, pois o praticante necessitará uma boa de capacidade respiratória. Uma técnica preliminar é o bhastriká pránáyáma, na qual você executará por até cinco minutos (5 min.), faça várias sessões de bhástrika pránáyáma nesse espaço de tempo. Se você achar que cinco minutos é muito tempo, escute o seu corpo e faça de acordo com a sua capacidade respiratória. O bhástrika pránáyáma visa expandir da resistência respiratória para permanecer com em retenções com ou sem ar. A expansão de capacidade respiratória será fundamental para a execução de kúmbhakas (antar e bahya), retenção com ar nos pulmões e retenção sem ar nos pulmões, que serão associados aos dois drishts.

 

Iniciando o exercício: ao inspirar eleve a cabeça e execute khechari mudrá, a compressão da língua contra o palato mole. Durante todo o tempo de kúmbhaka, retenção com ar nos pulmões, execute bhrúmadhya drishti, fixação na região do intercilio, no ájña chakra. Permaneça confortavelmente em kúmbhaka, executando khechari mudrá e bhrúmadhya drishti.

 

Precisando exalar, desfaça o khechari mudrá e bhrúmadhya drishti e associe todo o movimento de exalação com a flexão da cabeça para baixo. Ao esvaziar completamente os pulmões, pressione o queixo contra a parte alta do peito (jalándhara bandha), contraia bem a musculatura da região abdominal (uddiyana bandha), contraia os músculos dos esfíncteres do ânus e uretra (mulá bandha) e faça a fixação ocular na ponta do nariz, nasagrá drishti. Permaneça confortavelmente com os pulmões vazios, executando bandha traya (os três bandhas) e o nasagrá drishti.

 

Precisando inspirar, desfaça mulá bandha, uddiyana bandha e por último jalándhara bandha. Associe todo o movimento de inspiração com a elevação da cabeça até projetá-la bem para trás, iniciando um novo ciclo de kúmbhaka (retenção com ar nos pulmões), associado ao khechari mudrá e bhrúmadhya drishti, e assim os ciclos se sucedem. Execute por 10 minutos, mas respeite o tempo de evolução na técnica, inicie com um minuto para adquirir resistência física para executar as três técnicas simultaneamente.

 

Durante toda a inspiração vivencie prána sendo direcionado para a região do ájña chakra e ao reter com ar nos pulmões, vivencie a ativação de ájña chakra. Ao exalar vivencie prána se direcionando para a base da coluna, muládhara chakra. Ao reter sem ar nos pulmões, vivencie a ativação do muládhara chakra, sede de shaktí kundaliní. Ao inspirar novamente, visualize a energia ascendendo da base da coluna para a região do ájña chakra. Mantenha essa visualização durante todo esse exercício.

Daniel Nodari (Mahádeva) Om Namah Shivaya





Jala Neti Kriyā

7 05 2010

Jala neti é uma prática utilizada tanto no Yoga quanto na medicina ayurvêdica e que tem por finalidade promover a limpeza das narinas. Podemos ser feito antes de práticas de prānāyāmas e āsanas. Para o processo utilizamos água tratada, um recipiente chamado lota, espaço para escoar a água e orientação de um professor de Yoga com experiência nessa kriyā de limpeza.

Benefícios:

Elimina excesso de muco na cavidade nasal, remove as impurezas advindas da poluição da rua, desobstrui os orifícios de drenagens dos seios faciais prevenindo contra doenças respiratórias tais como resfriados, rinite, sinusite e enxaquecas. O sal atua como agente bactericida, por isso previne de resfriados e dores de garganta, além de efeitos benéficos em olhos, nervos óticos e cérebro. Para a prática do jala neti kriyā utiliza-se um “lota”, uma pequena chaleira ou bule que tradicionalmente é feito de cerâmica. O lota possui um bico apropriado para ser introduzido na narina.

Preparação e execução:

1- Ferva meio litro de água (filtrada ou água mineral) e acrescente uma colher de chá de sal grosso ou sal marinho durante a fervura.
2- deixe esfriar até que a água fique levemente norma, numa temperatura agradável para as narinas. Preencha o lota com a fervida em temperatura morna.
3- incline a cabeça para frente e paro o lado e introduza o bico do lota na narina que está acima.
4- mantenha a boca entreaberta para respirar.
5- Mantenha a cabeça bem na horizontal, o nariz fica acima da linha do ouvido, se o ouvido ficar mais baixo do que as narinas, a água poderá ir para o canal auditivo. Se você fizer na pia do banheiro facilmente poderá ver no espelho a inclinação da cabeça na horizontal.
6- faça de um lado e depois repita o mesmo com a outra narina.
7- assoe bem as narinas para expulsar o resíduo de água. Exale algumas vezes com a cabeça para inclinada para frente, para os lados e para trás.

Um dos melhores horários para fazer o Jala Neti Kriyā é pela manhã, ao acordar. Podendo ser feito com tranquilamente até o fim da tarde. Evite fazer logo antes de dormir, se restar um pouco de água acumulada na cavidade nasal, a água poderá se direcionar para ao canal auditivo quando você estiver deitado, gerando desconforto ou até dor de ouvido.
Evite a prática desta kriyā se estiver com alguma irritação, sensibilidade ou sangramento nas narinas. Se sentir ardência nas narinas reduza a quantidade se sal durante a fervura da água.
Após utilizar o lota, lave e seque bem e mantenha-o livre de poeira. Jala neti é uma prática relativamente simples de fazer, mas o ideal é que ela seja acompanhada de alguém que já tenha experiência nesta prática de purificação das narinas.

video explicativo e sem vinculos algum o idealizador do video

abraços,
Mahadeva (Daniel Nodari)
om shanti